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Na “Cimeira Internacional sobre o Papel da Carne e dos bovinos na Sociedade”, realizada em Denver (EUA) nos dias 30 e 31 de outubro de 2024, a European Livestock Voice aproveitou a oportunidade para entrevistar o primeiro orador da cimeira: Charlie Arnot, Diretor Executivo do Center for Food Integrity. Numa das apresentações mais inspiradoras do evento de dois dias, ele sublinhou a importância de comunicar a ciência de forma eficaz e de partilhar valores para criar confiança.


Sr. Arnot, durante o seu discurso, falou sobre a avaliação da verdade e o facto de a verdade ser relativa. Pode explicar melhor este conceito e de que forma afeta o debate sobre a carne e os bovinos?

A verdade é uma construção social. Enquanto sociedade, concordamos com o que consideramos verdadeiro e, nos últimos 400 anos, concordámos em basear a verdade na ciência e nos factos. Mas há 20 anos, as redes sociais entraram nas nossas vidas e redefiniram fundamentalmente todo o ambiente de comunicação. Agora é muito mais sobre o que parece verdadeiro para mim ou o que alguém como eu diz ou acredita que influencia a minha perceção da verdade. Por isso, o papel da ciência alterou-se e mudou fundamentalmente. Por isso, cabe realmente aos comunicadores científicos compreenderem isso para se tornarem mais eficazes neste novo ambiente. O novo ambiente não vai mudar, e não vamos voltar ao tempo em que toda a gente acreditava nos factos e na ciência. Então, como é que podemos garantir que a ciência é relevante neste momento?

Falando de redes sociais, disse que passámos da comunicação de massas para massas de comunicadores...

Sim, tivemos comunicação de massas durante anos. Tínhamos talvez um punhado de redes de televisão em cada país, um ou dois grandes jornais em cada cidade, e confiávamos neles para nos dizerem o que era verdade. Os meios de comunicação social não nos dizem o que devemos pensar, mas dizem-nos o que devemos pensar, certo? Porque os mantêm à nossa frente. Bem, quando perdemos isso e passámos para as redes sociais, toda a gente com um telemóvel é agora um criador de conteúdos. Toda a gente pode ter uma opinião, e temos podcasters como Joe Rogan nos Estados Unidos com uma audiência maior do que a de várias redes principais juntas. Trata-se, portanto, de um ambiente totalmente novo que democratizou efetivamente a difusão da informação e do poder, mas que também reduziu o impacto da ciência nessas conversas sociais.