Artigo: Sustentabilidade da Produção Animal

Autor: Luis Bagulho, médico-veterinário do agrupamento da Carne Alentejana

 

Desde a edição do dia 17 de dezembro que temos vindo a divulgar na APIC| INFO| Semanal resumos das apresentações feitas no seminário que foi realizado pela APIC, o qual contou com a colaboração da FMV, no passado dia 16 de outubro.

Este seminário, teve como objetivo criar um espaço de diálogo e sobretudo promover um debate transparente sobre a produção e consumo da carne. Para este efeito, foram convidados peritos desde o Bem-Estar animal nas explorações, do real impacte no ambiente pela produção animal, bem como, peritos em nutrição a fim de ser transmitido a real importância do consumo de carne para a saúde do Homem. Também, foram abordadas as questões da legislação aplicável aos estabelecimentos de abate, a importância do melhoramento genético e das raças autóctones. Ainda, foram dados exemplos de Boas Práticas de produção extensiva no Brasil. Por fim, foi transmitido o que já se faz em termos de Boas Práticas na Indústria alimentar, relativamente à sustentabilidade, objetivo da “Estratégia Farm to Fork”, bem como foi divulgado um panorama do consumo em Portugal.

O resumo que agora se apresenta é relativo à apresentação feita pelo Dr. Luis bagulho, médico-veterinário do agrupamento da Carne Alentejana, sob o tema: “Produção de carne em modo sustentável. Circuitos económicos curtos versus longos e intensivos. Como podemos fazer a diferença?” este orador começou por dar a definição de sustentabilidade, considerando ser a garantia de que a exploração de uma determinada área continuará a fornecer recursos, promovendo o bem-estar económico-social, para as comunidades que nela vivem e das gerações futuras. No caso da produção animal, esta sustentabilidade deve ter em atenção: a manutenção da biodiversidade; a capacidade de manter e melhorar a fertilidade dos solos;  a qualidade e boa utilização da água; a minimização do uso de produtos de síntese; a promoção do uso de fontes energéticas renováveis; o respeito pelo bem-estar animal; a redução do uso de antibióticos e de outros grupos de medicamentos;

entre outros.

Quanto a Circuitos económicos curtos vs longos e intensivos, o Dr. Luis transmitiu que um circuito agroalimentar curto é uma forma de comercialização que privilegia a venda direta do produtor ou organização de produtores aos consumidores finais, permitindo, no máximo, a existência de um intermediário. Este conceito está ligado a outros, não menos importantes, como: a origem do produto; a rastreabilidade; a proximidade geográfica entre produtores e consumidores; a utilização de matérias-primas maioritariamente produzidas/obtidas na exploração; a informação sobre a origem, modo de produção, raça, alimentação, etc., suscetíveis de demonstrar as características únicas do produto; a eficiência energética e a minimização da pegada de carbono;

Por oposição a este conceito disse ainda que existem circuitos agroalimentares longos e intensivos. Nestes, há numerosos intermediários, entre os produtores ou as suas organizações e os consumidores finais, existindo uma grande especialização de produção e uma intensificação da mesma. Como consequência, nestes circuitos mais longos: perde-se a ligação dos consumidores à produção; os produtos são originários de explorações geograficamente muito distantes; desconhece-se sobre o modo de produção; a informação que o consumidor tem sobre o produto que adquire é praticamente inexistente; a eficiência energética é muito baixa e a pegada de carbono muito elevada;

O Orador continuou dizendo, que estando desde sempre ligado à Raça Alentejana, autóctone, produtora de uma carne com Denominação de Origem Protegida, não queria, todavia, ser fundamentalista, tendo a plena consciência que os dois sistemas aqui analisados, no caso da carne, estão forçados a coexistir.

A carne de bovino produzida em Portugal, é manifestamente insuficiente para assegurar as quantidades necessárias para o abastecimento do país. No entanto, existem oportunidades que podemos e devemos aproveitar quer em sistema extensivo quer em sistemas mais intensivos. Na análise que o orador faz, compara circuitos curtos de comercialização de carne com produção extensiva e, circuitos longos de comercialização com produção intensiva.

Assim, no extensivo, temos raças autóctones com grande capacidade de adaptação às condições edafo-climáticas da sua zona de origem, capazes de aproveitar os recursos locais, com o maneio tradicional de produção que lhes confere as referidas características únicas e diferenciadoras, num ambiente de neutralidade carbónica e no respeito pelo bem-estar animal. Neste sistema, os animais, utilizam na sua alimentação os produtos e subprodutos da exploração. Erva, pastagens biodiversas, fenos, restolhos, landes, bolotas, pastos secos e restolhos de cereais servem de base à alimentação dos animais. Estes produtos têm a grande vantagem de não concorrer com os utilizados na alimentação dos seres humanos e de neutralizar a produção de carbono através do seu sequestro pelas plantas. A utilização de alimentos concentrados está minimizada, sendo justificada apenas em períodos de escassez alimentar ou nos últimos 2 meses de vida dos animais.

No sistema intensivo existem também oportunidades de melhoria, nomeadamente: melhorando a eficiência das explorações (alimentação, maneio, energia, etc.); o bem-estar animal; a melhoria logística dos transportes; a utilização de protocolos vacinais pré-aquisição, reforçados posteriormente nas explorações de destino, o que permitirá uma redução drástica da utilização de antibióticos; a comunicação aos consumidores das boas práticas e exigências de rigor destas explorações em Portugal.